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Bitcoin - vilão ou aliado do meio-ambiente? A mineração como uma ferramenta para a transição verde

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TL;DR:

 

  • Eventos recentes reacenderam o debate em andamento sobre os impactos ambientais da mineração de bitcoin. Isso destacou a necessidade de uma análise mais precisa do uso de energia do mecanismo de consenso de Proof-of-Work no Bitcoin.

  • Embora a tese de investimento em bitcoin tenha se fortalecido nos últimos anos, alguns investidores institucionais consideram a mineração de bitcoin um impeditivo para alocar recursos em criptoativos.

  • No entanto, a mineração de bitcoin está emergindo como uma poderosa ferramenta ambiental para mitigar as emissões de gases de efeito estufa, monetizar fontes renováveis intermitentes e utilizar energia excedente de redes elétricas.

  • Essas soluções inovadoras foram mostradas recentemente como uma parte importante das estimativas atualizadas para a matriz energética da mineração de bitcoin, com fontes sustentáveis atualmente aparecendo como a maioria da energia total utilizada.

  • Esse potencial, que já está sendo reconhecido pelos governos, está transformando gradualmente o bitcoin em uma iniciativa ambiental completa.

 

 


 

O Greenpeace encomendou recentemente uma obra de arte chamada "O Crânio de Satoshi", que visava criticar o uso de energia do mecanismo de consenso Proof-of-Work (PoW) do Bitcoin. Após a obra ser abraçada pela comunidade cripto, seu criador, Benjamin Von Wong, fez um post no Twitter admitindo que sua visão restrita do impacto ambiental do Bitcoin estava errada e que ele acredita que O Crânio de Satoshi representa que "o Bitcoin tem o potencial de ser mais ecológico".

Esse evento, assim como a recente atenção da mídia que não apresenta uma análise completa e justa da mineração, é um exemplo perfeito de porque é necessário um exame mais apurado do perfil energético do Bitcoin. Como Von Wong reconhece, a mineração de bitcoin (BTC) não é "uma questão simples de preto no branco". Concordamos e trabalhamos duro para ajudar nossos investidores a entender a importância da mineração de bitcoin e seu perfil energético em mudança, algo que está se tornando cada vez mais importante à medida que os investidores avaliam como os criptoativos impactam o "E" em ESG.

Para tanto, elaboramos este relatório para identificar alguns dos desenvolvimentos mais importantes em relação à mineração de bitcoin, bem como considerações para os investidores ao avaliar o impacto do BTC no meio ambiente.

 

Melhoria da tese de investimento do Bitcoin

 

A tese de investimento do Bitcoin vem se fortalecendo em várias frentes nos últimos anos, principalmente devido ao crescente interesse dos investidores institucionais pelo principal ativo digital. Embora dados históricos sugiram que os retornos ajustados ao risco de um portfólio podem ser significativamente auxiliados por uma pequena alocação em BTC, uma parcela dos investidores institucionais ainda considera a mineração um impedimento para incluir o BTC em suas estratégias de investimento, apoiando-se na percepção geral de que o modelo de segurança do Bitcoin está em conflito com os princípios ESG.

Historicamente, defensores do Bitcoin argumentam que, embora a mineração de BTC consuma quantidades significativas de energia, os benefícios sociais e econômicos do Bitcoin como uma rede resistente à censura e sua característica de ser um ativo que não pode ser confiscado ou diluído por uma autoridade central, superam qualquer impacto ambiental negativo da mineração. Além disso, o mecanismo de consenso PoW do Bitcoin é realizado por dezenas de milhares de computadores independentes, o que garante que os parâmetros da rede e a política monetária do BTC sejam mantidos inalterados ao longo do tempo. Essa importante estrutura de governança ajuda a verificar que os mineradores fizeram o trabalho para incluir novos blocos no livro-razão do Bitcoin.

Essas características do Bitcoin geralmente contam como fatores positivos para o "S" e o "G", mas muitas vezes são percebidas como um fator negativo para o "E". No entanto, a combinação desses três fornece uma pontuação ESG líquida positiva para o BTC. A percepção comum de que o fator "E" do Bitcoin é negativo, que prevalece até mesmo entre os fortes defensores do Bitcoin, está começando a mudar à medida que iniciativas do mundo real sugerem que a mineração de BTC pode em breve se tornar uma verdadeira estratégia ESG.

 

Evolução verde da mineração

 

Existem dois principais impulsionadores que estão mudando o impacto ambiental da mineração de BTC. O primeiro é que a mineração está sendo usada para ajudar a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, e o segundo é o seu uso como estabilizador de redes elétricas.

 

  1. Mineração de BTC como ferramenta para mitigar as emissões de gases de efeito estufa

 

A mineração de BTC está surgindo como uma ferramenta para mitigar as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na extração de hidrocarbonetos. De acordo com o relatório mais recente sobre emissões de gás de combustão pela International Energy Alliance (IEA), em 2021, a queima global de gás de combustão - o processo pelo qual empresas de petróleo e gás queimam gases inflamáveis que não podem ser transportados para outros locais devido à inexistência de gasodutos - queimou um equivalente ao volume total de gás natural importado pela Alemanha, França e Holanda, contribuindo para a liberação direta de 270 Mt de dióxido de carbono (CO2) e quase 8 Mt de metano (equivalente a ~240 Mt de CO2). Em comparação, o Cambridge Bitcoin Electricity Consumption Index (CBECI) estima que a pegada de carbono anual total do Bitcoin é de 62 Mt CO2 (~12% da queima de gás natural em 2021).

Recentemente, empresas como a Crusoe começaram a oferecer uma tecnologia que transforma o gás de combustão que seria queimado em eletricidade. No entanto, assim como o gás original, essa eletricidade teria que ser transportada do local de produção para os locais de consumo, o que apresenta desafios semelhantes à construção de gasodutos. É aí que a mineração de BTC se torna útil. As instalações de mineração (como contêineres de mineração de BTC) podem ser instaladas in loco e usar a eletricidade gerada para criar um produto - o BTC - que é negociado em um mercado global e cujo custo de transporte é próximo de zero, algo que não se pode dizer de qualquer outra mercadoria ou bem. Além disso, o metano em excesso de gás pode ser queimado de forma mais eficaz, criando um verdadeiro crédito de carbono que mitiga ~63% das emissões equivalentes de CO2, ao mesmo tempo em que ajuda a meta da IEA de reduzir os volumes de queima de gás de combustão em 90% até 2030. Essa tecnologia está sendo atualmente utilizada por empresas como ExxonMobil e ConocoPhillips, e a oportunidade está começando a ser reconhecida pelos governos. O Escritório de Política de Ciência e Tecnologia da Casa Branca declarou explicitamente em um relatório de setembro de 2022 que "operações de mineração de criptoativos que capturam metano ventilado para produzir eletricidade podem gerar resultados positivos para o clima."

 

  1. Mineração de BTC como estabilizador de redes elétricas

 

Outro exemplo de mineração de BTC como catalisador para um futuro mais verde é a utilização de excedentes de energia fora da rede elétrica provenientes de fontes sustentáveis, juntamente com o potencial da mineração como ferramenta de estabilização da rede elétrica. Em particular, apesar das tecnologias eólica e solar terem ganhado eficiência e aumentado em adoção na última década, sua intermitência inerente as torna menos competitivas em termos de custos quando comparadas a combustíveis fósseis ou outras fontes sustentáveis (como hidrelétrica e nuclear). Embora as baterias, teoricamente, pudessem resolver o problema do armazenamento de energia, elas vêm com seu próprio conjunto de impactos sociais negativos, como condições de trabalho insalubres para mineiros de cobalto em países africanos pobres e desafios ambientais relacionados ao descarte e reciclagem adequados de resíduos tóxicos. A mineração de BTC surge como uma solução conveniente, com os mineradores se tornando o comprador de última instância para fontes de energia intermitentes, consumindo o excesso de energia quando há abundância de luz solar e vento, mas a demanda é baixa, e desligando as operações quando a demanda atinge o pico. Como já é o caso em alguns estados dos EUA, a instalação de operações de mineração industrial onde há energia excedente disponível também pode levar a vantagens fiscais nos gastos com eletricidade, custos de equipamentos, reparos e espaços alugados, o que incentiva ainda mais as instalações de mineração a desligar as operações durante condições climáticas extremas.


 

Agora, embora à primeira vista essas soluções emergentes pareçam atraentes do ponto de vista ambiental, pode-se argumentar que o uso da mineração de BTC como mitigador de emissões de GEE ou ferramenta de estabilização da rede elétrica ainda é muito incipiente para contar como uma pontuação "E" positiva para o BTC. De fato, em um artigo publicado em setembro de 2022, pesquisadores do Cambridge Centre for Alternative Finance (CCAF) usaram o modelo teórico que alimenta o CBECI para avaliar a matriz energética da mineração de BTC, descobrindo que, em janeiro de 2022, 37,6% da energia vinha de fontes sustentáveis (26,3% de renováveis e 11,3% de energia nuclear), enquanto 62,4% derivavam de combustíveis fósseis. No entanto, nesse mesmo artigo, os autores enfatizam que algumas atividades que podem reduzir as emissões líquidas não são contabilizadas no CBECI, incluindo "o uso de gás de combustão, mineração de Bitcoin fora da rede, recuperação de calor residual ou compensações de carbono". Uma análise mais recente de Daniel Batten, co-fundador da CH4-Capital - um fundo de investimento focado em tecnologias de abatimento de metano - revisou exatamente esses pontos e concluiu que o artigo do CCAF subestima a parcela sustentável da matriz energética da mineração de BTC em 15%, o que implica que, em janeiro de 2022, 52,6% da eletricidade total utilizada já vinham de fontes sustentáveis, com 1% vindo de gás de combustão e 10,8% derivados do uso de energia renovável fora da rede elétrica, muito mais próximo do número (58,9%) divulgado pelo Bitcoin Mining Council para o Q4'22.

 

A moral da história

 

Embora haja espaço para melhorias nas estimativas da matriz energética utilizada pela mineração de BTC, os dados atuais sugerem que o uso de novas fontes de energia sustentável tem ganhado espaço nos últimos anos. Em outras palavras, a oportunidade de usar a mineração como uma ferramenta para um futuro mais responsável do ponto de vista ambiental já está acontecendo. Novos projetos de energia sustentável que, de outra forma, não seriam viáveis financeiramente podem se tornar viáveis, e uma nova fonte de créditos reais de carbono pode ser aproveitada para atender aos ambiciosos objetivos da IEA de emissões zero até 2050. Para os investidores, isso significa que a mineração pode não ser mais percebida como vilã, mas sim como uma ferramenta eficaz de responsabilidade ambiental. O gênio da mineração de BTC está saindo da lâmpada, e o fator "E" do BTC está cada vez mais inclinado para o positivo.

 

[1] ESG é o acrônimo em inglês para “environmental, social and corporate governance”, ou “ambiental, social e governança corporativa”.

[2] Mt CO2 representa um megaton de CO2 (a unidade convencional de medida de emissões de GEE), igual a 1.000.000 de esferas de CO2 com 10 metros de diâmetro.

[3] O metano é estimado ser de 28 a 34 vezes mais efetivo que o CO2 em capturar calor na atmosfera por um período de 100 anos.

[4] Uma mineradora pode possuir todo o seu poder computacional instalado em um local de extração no Golfo do México e ter o BTC que ela minera enviado para um endereço em Hong Kong sem nenhum custo de transporte.

[5] Intermitência é a propriedade de uma fonte de energia que não é constante, como a luz solar, que só está presente durante o dia.

 

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