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Genesis pode fechar o ciclo de falências nas finanças centralizadas

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TL;DR:

  • A Genesis Global Holdco, empresa de empréstimos afiliada ao Digital Currency Group, entrou com pedido de falência no dia 19 de janeiro de 2023.

  • Documentos oficiais mostram que a companhia e suas subsidiárias possuem mais de US$ 150 milhões disponíveis em caixa, com um número estimado de credores superando os 100.000, e um total de passivos na faixa de US$ 1 bilhão a US$ 10 bilhões. 

  • Os preços de cripto refletem que o anúncio foi até aqui ignorado pelos investidores, com os ativos digitais seguindo sua ascensão como uma das classes de melhor desempenho em 2023.

  • Se a falência da Genesis se provar ser a última implosão deste ciclo, podemos estar presenciando o surgimento de uma base ainda mais forte para cripto nos próximos anos, construída por empresas responsáveis, projetos blockchain com ótimos fundamentos e uma base de investidores focada no longo prazo.

 


 

Após dois meses da saga FTX, a mais recente empresa de finanças centralizadas (no inglês, centralized finance ou CeFi) a entrar com pedido de falência é a Genesis Global Holdco, empresa de empréstimos (crypto lending firm) afiliada ao Digital Currency Group (DCG). A Genesis iniciou seu processo de reestruturação (o chamado Chapter 11) no fim da quinta-feira (19 de janeiro) no distrito sul de Nova York, ao lado de duas de suas subsidiárias, Genesis Global Capital e Genesis Asia Pacific. Outras subsidiárias da Genesis envolvidas em serviços de derivativos, spot trading e custódia não estão incluídas no processo.

Conforme carta do nosso CEO em meados de novembro, a Genesis havia interrompido saques e novas obrigações de crédito citando um “tumulto de mercado sem precedentes” após a queda da FTX. As semanas seguintes trouxeram especulações fortes sobre a provável insolvência do “braço” de empréstimos do grupo DCG, com a companhia passando por dificuldades para levantar US$ 1 bilhão em sua tentativa de evitar a falência. Agora, após dois meses marcados por temores crescentes de possíveis contágios nas demais empresas do DCG – incluindo a gestora de ativos e patrocinadora do GBTC, Grayscale – a Genesis e seus conselheiros decidiram iniciar o processo de estruturação para encontrar o caminho mais efetivo “para preservar ativos e seguir adiante com seus negócios”. Os documentos oficiais1 do processo mostram que a companhia e suas subsidiárias detêm mais de US$ 150 milhões à mão, o que supostamente é liquidez suficiente para manter suas operações atuais e realizar o próprio processo de reestruturação. Além disso, o número estimado de credores das três companhias supera os 100.000, com passivos totais na faixa de US$ 1 bilhão a US$ 10 bilhões.

 

O ouroboros de CeFi: do trade de GBTC à falência da Genesis

 

A falência da Genesis pode estar fechando a sequência de grandes implosões ocorridas em CeFi ao longo de 2022, um ciclo que se iniciou com o chamado “GBTC trade” sendo utilizado para gerar ganhos durante boa parte do bull market mais recente. Isto porque a Genesis era uma empresa líder de crypto lending, atuando como um dos intermediários mais importantes para os chamados produtos de “altos retornos” (no inglês, high-yield) no mercado cripto. Ela foi utilizada por outras empresas como Three Arrows Capital, Celsius e Alameda Research para impulsionar suas capacidades de gerar retornos em cripto. Quando o mercado iniciou sua tendência de baixa de forma definitiva no segundo trimestre de 2022, o castelo de cartas das estratégias high-yield começou a ruir, e atores de CeFi com práticas de risco impróprias finalmente se deram conta de que “não existe almoço grátis”.

Seguindo adiante, é importante monitorarmos como a SEC (a CVM americana) responderá ao pedido de falência da Genesis, uma vez que a agência reguladora recentemente acusou a própria Genesis e a Gemini – grande exchange centralizada de cripto (CEX) sediada nos EUA – por oferta e venda de valores mobiliários não-registrados através do programa de empréstimos Gemini Earn, um produto de yield contando com mais de US$ 900 milhões em criptoativos de 340.000 clientes da CEX.

As próximas semanas também nos mostrarão um quadro mais claro quanto a se a Genesis e suas subsidiárias eram as únicas empresas do DCG em má forma após o inverno cripto de 2022, ou se ainda há cartas a cair. Mas se a falência da Genesis foi, de fato, a última implosão de cripto deste ciclo, podemos estar vendo o fim do período que seguiu a alta histórica de cripto de novembro de 2021, com um mercado renovado em que os atores responsáveis sobreviveram, os bons projetos fortaleceram sua tecnologia e seus fundamentos, e os investidores – tanto de varejo quanto institucionais – se mantiveram nesta classe de ativos pela crença verdadeira no potencial da tecnologia blockchain. Por enquanto, o rali de cripto desde o início do ano parece endossar essa ideia, com o Nasdaq Crypto Index (NCI) apresentando uma alta de 35,62% no acumulado de 20232, e a razão de volume negociado entre spot e futuros no bitcoin sugerindo que o sentimento do mercado está paulatinamente mudando. Juntamente aos sinais macro mais positivos dos últimos meses, a falência da Genesis pode ser um dos eventos finais para a criação de uma fundação mais forte para um próximo ciclo de cripto.

Assim como discutimos em nosso Crypto Investment Outlook 2023, o potencial de cripto é simplesmente muito grande para que os investidores mantenham seu foco em estratégias de high-yield de curto prazo que não sobrevivem às correções de ativos com uma volatilidade anualizada superando os 80%. E conforme a Hashdex se aproxima do seu quinto aniversário, a derrocada da Genesis é mais uma demonstração de porque ser obcecado por risco é a melhor a estratégia a ser seguida em nossa missão de oferecer uma exposição a essa classe de ativos emergente através de produtos simples, seguros e regulados.

 

[1] Documentos originais podem ser encontrados em https://restructuring.ra.kroll.com/genesis/.

[2] Fonte: Nasdaq NCI History, acessado em 23 de janeiro de 2023.

 

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