O Bitcoin nasceu no final da Grande Crise Financeira (GFC) há mais de 14 anos. O bloco original, que emitiu os primeiros 50 bitcoins, incluía uma frase do seu criador, Satoshi Nakamoto:

 

"The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks."

_{Tradução: The Times 03/Jan/2009 Chanceler à beira de segundo resgate aos bancos.}

 

Esta mensagem, permanentemente incorporada no primeiro blockchain do mundo, era a manchete do jornal britânico The Times na manhã de 3 de janeiro de 2009. Quase uma década e meia depois, as criptomoedas estão lentamente transformando nossa economia, e o valor desta classe de ativos emergente tornou-se o tema do momento entre especialistas, formuladores de políticas públicas, e aqueles que acreditam nos benefícios transformadores das tecnologias de blockchain abertas.

Mas à medida que os bancos colapsam e os reguladores lutam para proteger os depositantes e os sistemas bancários que supervisionam, torna-se cada vez mais evidente que a alternativa que não existia no início da GFC, o Bitcoin, está se tornando cada vez mais atraente e valioso. Nunca antes um ativo investível com oferta limitada, disponível para qualquer pessoa no mundo, e que não está sujeito aos caprichos políticos dos governos, pareceu tão importante.

 

Cuidado com os Idos de Março?

 

Os Estados Unidos e a Europa estão em meio a uma crise bancária. Há 10% de bancos nos EUA que possuem perdas ainda não reconhecidas maiores do que o SVB e outros 10% com níveis de capitalização mais baixos do que o SVB. A confiança no sistema bancário é menor do que durante a crise financeira global, com atualmente apenas um em cada dez adultos nos EUA tendo uma confiança alta no sistema financeiro americano. Com esse pano de fundo, não é surpresa que o Bitcoin, criado quando a fé nas instituições financeiras estava em um nível histórico baixo, tenha atraído mais interesse dos investidores à medida que aprendemos mais sobre essa crise atual. Esse interesse ficou muito evidente na semana passada, à medida que os governos se esforçaram para apoiar os bancos e preservar o sistema bancário.

A frase "Cuidado com os Idos de Março!" é frequentemente usada para alertar sobre uma possível traição ou infortúnio iminente. Ela se popularizou a partir da peça Júlio César, de William Shakespeare, e faz referência ao seu iminente assassinato. Mas no calendário romano, os Idos de Março (15 de março nos tempos modernos) eram conhecidos por outra coisa - um prazo para a liquidação de dívidas.

Embora a última semana tenha sido mais sobre a criação de novas dívidas do que a liquidação das antigas, acredito que os Idos de Março de 2023 serão lembrados como o início de um despertar para a conscientização dos perigos inerentes de um sistema bancário global sobrecarregado com dívidas, onde as garantias do depositante são limitadas e os que poupam estão sujeitos à saúde financeira e à lucratividade de sua instituição financeira. Essa falta de alinhamento de incentivos é precisamente o problema que o Bitcoin foi criado para resolver. E estamos vendo um reconhecimento disso refletido nos preços do ano até agora, com o Bitcoin subindo 73% e superando 97% das empresas do S&P 500. Grande parte desse desempenho ocorreu imediatamente após o fechamento do SVB em 10 de março, à medida que os índices bancários caíram e outras classes de ativos - incluindo ouro - ficaram estáveis ou geraram retornos muito modestos. Uma clara linha divisória entre um mundo pré e pós-SVB foi traçada, e acreditamos que o Bitcoin se beneficiará nesse novo regime.

 

 

Um voo para a qualidade

 

Para entender ainda mais porque este ano tem sido tão forte para os criptoativos, é útil observar o que o primeiro trimestre de 2023 nos apresentou até agora:

Em janeiro, a possibilidade de aliviar as expectativas de inflação e a perspectiva de que o Fed pudesse evitar manter as taxas mais altas por mais tempo impulsionaram o BTC em mais de 38%, ultrapassando em muito outras classes de ativos de risco.

Fevereiro, no geral, não teve eventos, já que os preços em todas as classes de ativos ficaram estáveis. O Bitcoin e o Nasdaq Crypto Index™ subiram modestos 1%, impactados negativamente pelas ações regulatórias contra empresas de criptomoedas, mas resilientes ainda assim.

Então veio março. Este mês começou com medos de que o Fed aumentasse novamente as taxas (ou acelerasse o ritmo do aumento), antes que uma completa reversão desta perspectiva ocorresse quando o Silvergate, o SVB e o Signature caíram e a fragilidade dos bancos europeus e regionais dos EUA foi exposta. Isso mudou a mensagem do Fed e resultou no FOMC recuando no aumento esperado de 50 pontos-base (pb) da taxa, optando por um aumento de 25 pb em vez disso.

Enquanto o preço do Bitcoin subiu este ano devido à expectativa de condições monetárias mais suaves, é curioso notar que o BTC está superando o ETH e outros criptoativos, enquanto tem um desempenho mais alinhado com o ouro. Eu acredito que isso é um movimento de fly-to-quality (movimento coletivo de busca por ativos mais seguros, que é observado em momentos de crise e incerteza econômica) que está principalmente correlacionado com os atributos mais fortes do Bitcoin, incluindo suas características de reserva de valor, imutabilidade e oferta limitada.

 

 

Fortalecimento da tese de investimento de longo prazo

 

O interesse crescente no Bitcoin é muito mais do que apenas uma reação de curto prazo à falhas bancárias e instabilidade do sistema financeiro.

No mês passado, escrevi sobre o ciclo de recuperação atual do Bitcoin seguindo as recuperações anteriores - é difícil argumentar que a história não rima muitas vezes. Estamos no início de uma recuperação de preço semelhante a que vimos no início de 2019 e, se usarmos a história como nosso guia, podemos continuar esperando alta volatilidade e incerteza de preço. Mas essas coisas são sempre parte de um período de recuperação. E eventos macro recentes podem ajudar a nos levar ao próximo mercado em alta, que pode ser acelerado pelo próximo halving do Bitcoin, provavelmente em maio de 2024. Todos esses fatores juntos estão solidificando o papel vital do Bitcoin como uma rede sem fronteiras, descentralizada e resistente à censura. Isso continuará a impulsionar a adoção e o crescimento das criptomoedas.

No curto prazo, os eventos da semana passada apenas fortaleceram a perspectiva de que a recuperação do Bitcoin está tomando forma. O forte desempenho do BTC este ano é tanto um reflexo de seus fundamentos resilientes quanto seu papel como alternativa a um sistema bancário cada vez mais frágil. No futuro, o Bitcoin provavelmente se beneficiará tanto em um ambiente de política monetária hawkish quanto dovish, já que o aumento das taxas de juros coloca mais pressão sobre os bancos, enquanto um ambiente de taxa mais baixa beneficiará ativos de risco em geral.

Independentemente disso, em um ambiente de incerteza econômica, onde a instabilidade das maiores instituições financeiras do mundo está sendo trazida à tona, uma moeda digital com oferta limitada nunca foi tão relevante. E a importância do Bitcoin continuará a crescer à medida que mais pessoas perceberem seu papel importante no sistema financeiro e na economia global. Em outras palavras, a tese de investimento para a primeira criptomoeda do mundo está se desenrolando diante de nossos olhos.

 

 

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