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Por que o Brasil deve ser pioneiro em moeda digital?

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O Brasil deve ser pioneiro na adesão de moedas digitais, explica João Marco Cunha, Gestor de Portfólios da Hashdex em um artigo no Jornal O Globo desse domingo.

Você já viu uma cena como essa incontáveis vezes. Após uma bem-sucedida operação contra uma quadrilha de narcotraficantes, a polícia exibe, orgulhosamente, as apreensões realizadas: armas, munições, drogas e maços de dinheiro, cuidadosamente organizados. Numa outra cena específica, mas também repetida à exaustão, um assessor especial da Presidência sai de um restaurante carregando uma mala, ensaia uma corrida por alguns metros e entra num táxi. O que há em comum entre as duas situações, além é claro, de ambas estarem associadas a atividades ilícitas, é a presença de dinheiro em espécie em grandes quantidades na cena do crime.

"Siga o dinheiro" é uma máxima daqueles que buscam desvendar esquemas de crime organizado. Os infratores, por sua vez, buscam transacionar deixando o mínimo de rastro que puderem e, para tal, nada melhor que cédulas. Esse título ao portador é praticamente impossível de ser rastreado e, portanto, um porto seguro para os fora da lei. Não foi por outro motivo que, nos anos 60, o presidente Nixon decidiu tirar de circulação as notas de 500 dólares ou maiores.

Porém, não são apenas os grandes corruptos e grupos criminosos organizados que se beneficiam do anonimato que o papel-moeda oferece. Pense, por exemplo, no criminoso comum que furta celulares e passa a um receptador, que repassa para um comerciante ilegal e, por fim, vende a um usuário, tudo com dinheiro em espécie. Mesmo os crimes mais corriqueiros acabam sendo parte de redes nas quais boa parte dos pagamentos é feita em notas. Tirá-las de circulação seria um golpe sem tamanho em uma gama diversa de delitos, desde pequenas sonegações de impostos até tráfico de pessoas.

Até pouco tempo atrás, o papel-moeda podia ser visto como um mal necessário. Não havia alternativas tecnologicamente viáveis para a sua substituição. Isso mudou drasticamente nos últimos anos. Prova disso é o teste em larga escala anunciado pela China. Segundo o britânico “The Guardian”, a partir de maio, funcionários públicos de quatro cidades selecionadas, que somam mais de 40 milhões de habitantes, passarão a receber seus salários através da versão digital da moeda chinesa. A carteira digital será interoperável com os aplicativos de pagamentos digitais, já muito comuns por lá, e funcionará também em modo off-line.

No Brasil, estamos dando os primeiros passos. Em fevereiro, o Banco Central anunciou a criação do PIX, uma plataforma de pagamentos e transferências digitais usando, principalmente, QR code. O início das operações está previsto para novembro e será um avanço incrível. Porém,  precisamos ser mais ousados: tirar a totalidade das notas e moedas de circulação o quanto antes. Há cerca de 220 milhões de smartphones ativos no país, mais de um por habitante. O custo de incluir a pequena parcela da população que ainda não tem acesso a um aparelho desses será ínfimo diante da economia proporcionada com a redução dos índices de criminalidade.

As enormes filas de pessoas aglomeradas para sacar o auxílio extraordinário pago pelo governo são uma demonstração inequívoca (e mortal) do quão arcaico é o sistema baseado em papel-moeda. Tem gente “que ama o passado e que não vê que novo sempre vem”. No caso do Real Digital, o novo urge.

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